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Hoje, manter o risco do produtor rural no seu balanço faz parte dos ossos do ofício de muitas empresas cujo negócio não envolve, intrinsecamente, assumir risco. Porém, quando esse risco se concretiza e o inadimplemento ocorre – com as estreitas margens hoje existentes no mercado – os credores passam por dificuldades tremendas.
Acessar crédito barato no mercado de capitais é uma opção interessante para esses credores, mas demanda a segurança – a confiança – dos investidores. Como o risco da operação é o risco do lastro subjacente, é essencial que as garantias usadas sejam sólidas.
Nesse artigo, mostro como, aqui na TerraMagna, garantimos a saúde de um CRA desde sua raiz: na seleção das garantias das CPRs subjacentes.
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Sempre faço uma apologia aos mercado de capitais como fonte de financiamento ao agronegócio. Porém, em 2018, tivemos pouco mais de R$1,1 bilhão em emissões de CRA pulverizado, dos quais 93% corresponderam à cadeia de insumos, totalizando R$1,05 bilhão em emissões (se quiser mais informações, veja o excelente anuário da Uqbar). Dado que a cadeia de insumos é avaliada em R$120 bilhões, isso corresponde a menos de 1% desse mercado tendo sido financiado pelo mercado de capitais.

Isso significa que o CRA falhou com o produtor rural, servindo apenas para fazer as emissões de “CRAbêntures” corporativos? Apesar de esse ter sido a maior parte do cenário até agora, o número de operações pulverizadas já aumentou esse ano. Qual seria o maior impeditivo para prosseguir nessa ascendência?
O desafio de quem estrutura veículos pulverizados é de escala. Originar, avaliar, aprovar, notificar, formalizar, monitorar e receber de diversos produtores espalhados por todo Brasil (ou mesmo por todo um Estado) representa um esforço tremendo que pode ser viabilizado pela tecnologia. Como comentei antes, já é consenso que é necessária tecnologia na viabilização de veículos estruturados em escala para financiar o nosso agronegócio.
Sobre o lastro de um CRA
Muitas vezes, o lastro subjacente ao CRA é de CPRs com penhor agrícola. Porém, para que o penhor agrícola seja uma ferramenta eficaz na hora da execução, você deve ter diversos cuidados: entre eles, que a área cuja lavoura é empenhada seja apta para o plantio.
É essencial que a área cuja lavoura será empenhada esteja apta para produção. Por conta disso, fazer a avaliação das áreas antes de constituir a operação é essencial. Pode parecer simples (“João, é claro que a área tem que ser apta para plantio!”), mas cerca de 20% das deficiências que encontramos em operações estão na própria seleção do colateral – isto é, nesses casos, as operações já começam com exposição de crédito.

Para entender a capacidade agronômica da matrícula, é essencial avaliar
- se as matrículas em que a lavoura será plantada estão consolidadas (isto é, foram historicamente plantadas).
- qual o desempenho histórico das áreas empenhadas com respeito à região;
- se a matrícula possui algum embaraço socioambiental;
- qual a área efetivamente cultivável dentro das matrículas.
Porém, você não vai descobrir essas informações apenas com a documentação das matrículas fornecidas pelo produtor. Para isso, uma boa ferramenta é o histórico de imagens de satélite sobre as áreas que o produtor forneceu para penhor da lavoura.

E se?
Sempre vale perguntar o que aconteceria caso uma verificação cuidadosa não fosse feita na seleção das áreas cuja lavoura é empenhada. Sempre procuramos apoiar a concessão de crédito desde a seleção do colateral; porém, quando monitoramos operações já constituídas, por vezes encontramos surpresas desagradáveis. O penhor da CPR da imagem abaixo é um exemplo disso.

Croqui da CPR fora da matrícula descrita dificulta execução do penhor agrícola.
A documentação da operação acima já fora formalizada quando passamos a monitorar a lavoura; porém, verificamos que o croqui constante na CPR não estava na matrícula descrita no mesmo documento. Qual a consequência? Exposição de crédito: ao haver inconsistências na formalização, a execução é dificultada. Fazer uma avaliação cuidadosa das áreas empenhadas evita que esse tipo de problema apareça justamente na hora em que você precisa fazer valer a sua garantia.
Lastro sólido e mercado de capitais
A expansão das operações de acesso ao mercado de capitais de lastro pulverizado a coloca como um dos principais potenciais pilares do desenvolvimento financeiro do agronegócio no Brasil.
Métodos eficazes de avaliação do lastro e monitoramento de toda a estrutura trazem a segurança necessária para que o investidor não familiarizado com o agronegócio tenha confiança no investimento.
Como comenta a equipe Uqbar, em seu Anuário CRA de 2019: “Cabe aos participantes do mercado de CRA avançar na capacitação deste segmento para poder aumentar a oferta de recursos e atender a demanda crescente“.
Vocês verão esses princípios aplicados na prática na próxima semana. O excelente trabalho desenvolvido pela Gaia Agro na estruturação do CRA da CCAB Projetos permitiu, por meio de tecnologia, ter absoluta confiança na seleção das áreas cujas lavouras foram empenhadas. São R$ 100,9 milhões com concentração máxima de 5%, majoritariamente dedicados a fertilizantes. É mais segurança para operação como um todo e confiança para o investidor do CRA.