O comércio de fertilizantes no primeiro semestre de 2022

A dependência do Brasil em relação aos fertilizantes importados ficou mais evidente com a guerra no Leste Europeu. A possível falta de adubo deixou o mercado interno em um estado de alerta e mostrou a fragilidade do setor. Para que a crescente produtividade continue, os produtos vindos de fora do país devem permanecer abastecendo o campo.

Nos últimos dez anos, a quantidade de fertilizantes importados vem crescendo. De janeiro até junho de 2022, foram 19,35 milhões de toneladas, 9 milhões a mais que dez anos atrás. Mesmo em um cenário de dificuldades, como foi o primeiro semestre deste ano, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior, de janeiro a junho de 2022, houve uma importação na ordem de US$ 12,84 bilhões em fertilizantes. Isso confirma que ocorreu um crescimento de 179,8% com relação ao mesmo período do ano passado, em que as compras externas registraram US$ 4,59 bilhões.

No Brasil, o Porto de Santos registrou um crescimento, no período de janeiro a maio deste ano, de 24,2% nas descargas de fertilizantes, totalizando 3,4 milhões de toneladas. Com a crise do abastecimento interno afastada, o que marcou o semestre foi um alta nos valores dos adubos no mercado brasileiro. Os custos subiram, em especial por causa de entregas internacionais que tiveram os prazos estendidos; com isso, os preços ficaram 140,7% mais caros que em 2021.

De acordo com um estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Pecege/USP, os fertilizantes, neste semestre, tiveram uma elevação nos preços que vão continuar a impactar o custo da produção para os próximos meses. Nas primeiras semanas do ano, após o começo do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, foram mais intensos esses reajustes pelo temor de uma escassez e a corrida para a reposição de estoques.

O primeiro semestre também foi marcado por busca de fornecedores no mercado internacional. Para diminuir a dependência da produção dos países em guerra, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) foi ao Egito, ao Marrocos e à Jordânia em busca de novos fornecedores de fertilizantes. Vários estudos realizados por diferentes universidades e órgãos ligados ao agronegócio no Brasil apontam para alternativas que podem ajudar no médio e longo prazo, como o investimento na mineração nacional, a produção de bioinsumos e novos fornecedores.

Como a atividade do campo depende dos fertilizantes importados e o contexto internacional está indefinido, os custos da produção agrícola brasileira continuarão sendo impactados. O tema foi discutido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com relação ao que vem pela frente. Um estudo técnico foi realizado e demonstrou que, para a safra 2022/2023, os custos de produção devem subir, em média, 45%, em especial com o gasto em fertilizantes, de acordo com os especialistas.

Embora ainda existam muitas incertezas no setor, o segundo semestre ainda deve ser de custos elevados para a compra de fertilizantes, explicam analistas de mercado. Assim, o distribuidor de insumos precisa ter um planejamento financeiro, exigindo-se agilidade na busca de crédito para realizar essas transações comerciais.