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O déficit de armazenagem do Brasil

Tempo estimado de leitura: 3 minutos 

Não é de hoje que o agronegócio exerce um papel fundamental para o crescimento da economia do Brasil. Em 2019, o PIB do setor representou 21,4% do PIB total brasileiro. Em 2018 os números também foram representativos, fechando em 21,1%. 

Vários fatores, tais como a implementação de tecnologia no campo, clima e aumento da área plantada, vêm contribuindo para esse aumento da produção. 

Segundo a Conab, a safra de grãos 2019/20 atingirá uma produção de 248 milhões de toneladas, um aumento de 2,50% se comparado a 2018/19. A previsão para a área plantada é de 64,4 milhões de hectares. Mesmo frente a esse crescimento saudável, a expectativa é de maior crescimento para os próximos anos. Um cenário extremamente positivo, mas que gera uma grande preocupação: onde armazenar tanta produção? 

Produzir e ter locais adequados para armazenar os produtos com qualidade e preservar as propriedades dos grãos, são os grandes desafios. 

A recomendação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) é que a capacidade de armazenamento seja de 1,2 vezes sua produção anual. 

Dados da Conab mostram que a capacidade estática de armazenagem no Brasil é de aproximadamente 166 milhões de toneladas de grãos, ou seja, o país fica com déficit de cerca de 80 milhões de toneladas. 

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A limitação de armazenagem implica diretamente em perda de dinheiro para os produtores e uma das alternativas acaba sendo a venda no mercado spot, muitas vezes diminuindo as margens de lucro. Isso, quando não acontece o descarte de parte da produção. 

Segundo a Embrapa, uma outra alternativa temporária é a utilização dos silos bolsa, tecnologia que necessita de uma secagem dos grãos. Os silos são de baixo custo e atendem à demanda de armazenamento e logística emergenciais.

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Exemplo de um silo bolsa 

Porém, é preciso ter cuidado! Esse tipo de armazenamento está sujeito a ataques de animais – roedores ou pássaros, por exemplo -, que podem furar a bolsa e contaminar o produto, comprometendo a sua qualidade. 

É importante lembrar que medidas emergenciais não resolvem os problemas. É preciso investir em logística e infraestrutura, priorizando sempre as boas práticas agrícolas, ainda mais em um país como o Brasil, com grande potencial de crescimento para o mercado interno e externo.


Para falar um pouco mais sobre o assunto, Edsmar Resende – Co-Founder na 10b e Circle e que tem amplo conhecimento sobre os desafios da armazenagem estática na agricultura.

 1- Até os Estados Unidos, que estavam desde 1980 sem problema de armazenagem, tiveram dor de cabeça em 2016. A escassez de armazenagem é uma preocupação de vários países?  

Sim, a carência de armazenagem estática é uma preocupação generalizada no mundo. Apesar de cada país enfrentar o desafio de uma forma diferente, o Brasil é o caso mais agudo devido ao descompasso entre o aumento constante da produção e o investimento em armazenagem estática não correspondente. Esses países acabam enfrentando problemas com a armazenagem, que pode ter diversas formas: desde a escassez direta de silos até estruturas inadequadas construídas há mais 40 anos e que não passaram pela devida manutenção, colocando em risco a qualidade do produto armazenado, com riscos diretos a quem consumi-lo. 

2- Como você avalia a nossa capacidade de armazenamento?  

A média de crescimento das safras no Brasil tem sido de aproximadamente 5,9% ao ano, e a armazenagem não consegue acompanhar esse ritmo. Além disso, um outro problema é que apenas 15% das propriedades têm armazenagem estática na fazenda. Para termos uma ideia, no Canadá esse número é de 80% e, nos Estados Unidos, 65%. Enquanto o índice de armazenagem (a relação entre a armazenagem estática instalada e a produção total) recomendado pela FAO é de 1,2, o índice do Brasil é de 0,67. Apesar de argumentável que o índice do Brasil poderia ser menor (cerca de 0,9) devido à parcela que as exportações representam na produção total, se quisermos elevar nosso índice de 0,67 a 0,9, será necessário um investimento de R$ 18B/ano pelos próximos 10 anos.

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3- O produtor rural tem realmente muito prejuízo devido a situação?  

Sim, muitos! Ele corre o risco de haver perda de produção, de ter que vender a mercadoria pelo valor atual do mercado, entre vários outros. Para exemplificar, se todos os produtores tivessem uma armazenagem estática na fazenda, o faturamento deles seria aproximadamente 15% maior. Poucas tecnologias dão tanto ganho no bottom-line do produtor. 

4- O que fazer diante desse problema? 

Cada vez mais o Poder Público e a iniciativa privada deveriam se unir para tentar amenizar o problema no país. Apesar de haver linhas de financiamento subsidiadas, elas não são suficientes; cada vez mais temos a participação do mercado de capitais no financiamento direto da armazenagem por meio de veículos tais como o FII, visto que silos são, em última análise, imóveis. Vale destacar a importância desse financiamento: a segurança alimentar mundial tem o Brasil no centro da questão e somos responsáveis pela paz mundial ao suprir o mundo com alimentos. Todo esse cenário tem a armazenagem e pós-colheita como um ponto central.

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