Maos colhendo solo para a interpretacao de analise de solo

Interpretação de análise de solo: veja como realizar

Você sabe que a interpretação de análise de solo correta é indispensável para economizar e evitar desperdício de insumos agrícolas? 

Por isso, é preciso identificar as reais necessidades do solo e da planta. Além disso, adiantamos que ter em mãos uma amostragem de nada vai adiantar caso não saiba interpretá-la corretamente. 

Cada lavoura precisa de uma quantidade específica de nutrientes para obter bons resultados. O que o agricultor sabe que precisa de adubação em um ano pode ter certeza que não será o mesmo para o próximo. 

A título de curiosidade, para a safra 2022/2023, a produção de grãos, por exemplo, está positiva. De acordo com dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa é de 310,9 milhões de toneladas

Se confirmado, o volume representa um aumento de 39,3 milhões de toneladas a mais a serem colhidas do que na temporada passada. 

Então, não vale a pena não cuidar do solo e correr o risco de perder a oportunidade de alavancar a produção. 

Pode apostar na soja, por exemplo, que está com o plantio próximo da conclusão. A expectativa de produção para a oleaginosa é de 152,7 milhões de toneladas.

Depois desse panorama, neste artigo, vamos explicar como realizar a interpretação de análise de solo e, a partir dela, otimizar o manejo da lavoura. Boa leitura! 

Qual é a importância da interpretação de análise de solo?

No Brasil, a maior parte dos solos não apresenta condições químicas naturais para o desenvolvimento das culturas.

Mesmo que em um primeiro momento a quantidade de nutrientes esteja correta, após diversos plantios, será preciso investir em técnicas de reposição. Por isso, até especialistas indicam a rotatividade de culturas

Mas como identificar a quantidade de nutrientes que o solo da sua propriedade apresenta? Mediante análise, o agricultor terá uma noção da fertilidade do solo e qual cultura se adapta melhor. 

Basicamente, existem três tipos de análises do solo. Veja:

Análise química de solo

A análise química é essencial para verificar a fertilidade do solo, ou seja, o nível de acidez e disponibilidade de nutrientes disponíveis para as culturas.

Análise física

Já a análise física (granulométrica) determinará os teores de areia, silte e argila no solo. Para caracterizar a textura do solo da propriedade, o ideal é que a análise física seja realizada apenas uma vez na área.

Análise química da planta

Por último, a análise química das plantas serve para averiguar possíveis deficiências, toxicidades e diferenciar os sintomas causados por doenças causadas por problemas nutricionais. 

Além disso, ainda é possível detectar a interação solo-planta-clima. Esse tipo de análise deve ser realizado durante o ciclo da cultura e, inclusive, funciona como complemento. 

Dito isso, vamos ao que interessa de fato, com o laudo em mãos, como interpretá-lo da forma correta. 

Principais itens para interpretação de análise de solo

Assim que for colhida uma amostra do solo e enviada para o laboratório, o agricultor receberá um laudo. Nele, constarão informações como: 

  • Macronutrientes primários: N, P, K.
  • Macronutrientes secundários: Ca, S, Mg.
  • Micronutrientes: B, Cl, Cu, Mn, Mo, Zn.
  • Valores de pH (acidez ativa): concentração de hidrogênio em solução do solo. 

Dependendo do laboratório, pode ser que a análise seja realizada em água ou em Cal2. Além disso, dependendo do pH do solo, pode ocorrer alteração na disponibilidade de nutrientes. Confira alguns possíveis resultados. 

  • Al3+ (alumínio): indica acidez trocável
  • H + Al (acidez potencial ou total): acidez trocável e não trocável
  • SB (soma de bases): K + Ca + Mg + Na
  • V% (saturação por bases): proporção da troca catiônica ocupada por bases  V%= [Soma de bases (K + Ca + Mg + Na) × 100 ]/CTC
  • CTC total (capacidade de troca catiônica): medida em pH 7 = SB + (H + Al)
  • t (CTC efetiva) = SB + Al
  • mt (Saturação por Al3+) = 100 × Al3+/t
  • M.O. (matéria orgânica)

Cada um dos símbolos acima representa uma característica do solo. Portanto, devem ser usados corretamente para melhorar o manejo da lavoura. A seguir, explicaremos alguns deles. 

O que significa cada item da análise de solo?

Os referidos itens não têm muita utilidade caso não sejam explicados, certo? Então, confira o que representam alguns deles. 

Acidez ativa do solo – pH

A acidez é uma das informações mais relevantes na hora de interpretar uma análise de solo. Para cada cultura, existe uma preferência. Algumas dão resultados melhores em meio ácido, outras em alcalino ou básico. 

Essa acidez é indicada pelo pH, unidade de medida (valores de 0 a 14) usada para avaliar a atividade dos íons de hidrogênio (H+). 

Os íons H+ (positivos) são elementos monovalentes, ou seja, realizam apenas ligações de alta energia, que são de extrema importância para as reações que ocorrem no solo e acabam por influenciar significativamente a atividade das plantas.

O valor do pH é inversamente proporcional ao teor de H+ presente no solo. Isso quer dizer que quanto mais H+, mais ácido o ambiente se torna. 

Por outro lado, quanto menor o valor do pH, mais ácido está o solo, pois mais H+ está presente. Quanto mais alto esse valor de pH, mais alcalino será o solo. 

Na análise de solo, o valor pode ser calculado de duas formas: base de água ou base de CaCl2. Veja!

  • pH em água

Nessa análise, o solo é misturado com água, e a avaliação é feita com o auxílio de um equipamento composto de um eletrodo. No entanto, pode ser que ocorra problema da turbidez, e parte do solo pode aderir ao eletrodo. Resultado: a leitura pode ser afetada negativamente. Quando isso acontece, é solicitada uma leitura complementar à base de CaCl2

  • pH em CaCl2 

Essa leitura é capaz de corrigir a condutividade elétrica da solução, o que acaba auxiliando na decantação do solo. Isso melhora os problemas com contaminação de eletrodo, por exemplo. 

Normalmente, a leitura do pH em CaCl2 é cerca de 0,5 ponto abaixo da leitura em água. Atenção: uma leitura complementa a outra e são indispensáveis para interpretação da análise do solo. 

A acidez do solo é considerada:

  • muito alta: quando o pH vai 4,3;
  • alta: 4,4 – 5,0;
  • média: 5,1 – 5,5;
  • baixa: 5,6 – 6,0; e
  • muito baixa: > 6,0.

Acidez trocável ou alumínio trocável – Al3+

A acidez trocável representa o teor de Al3+ no solo, que atua como um ácido fraco, liberando H+ na solução do solo e causando uma alteração no pH.  

Além de atuar como ácido fraco, saber o teor de Al3+ é de suma importância, afinal, apresenta propriedades tóxicas e pode afetar negativamente o crescimento radicular. 

Para realizar essa correção, a melhor técnica é a calagem. Nesse caso, vai servir como um neutralizante de sua ação acidificante, insolubilizando o solo. No fim das contas, não serão oferecidos riscos às plantas.

Acidez potencial – H + Al

A acidez potencial é composta pela acidez trocável e não trocável do solo (H + Al). O cálculo é realizado a partir da relação do pH de uma solução tamponada. 

Isso quer dizer que uma solução neutra pode resistir às mudanças de pH e, também, o teor destes dois elementos. 

A avaliação vai depender de tributos físicos, químicos e mineralógicos do solo. Tal dado é relevante para realizar cálculos de CTC e SB.

Bases trocáveis – P, K, Ca, Mg, H e Al

A argila do solo possui uma superfície eletricamente carregada, juntamente com a matéria orgânica e alguns minérios de ferro. Por isso, íons e moléculas polarizadas são grudadas a essa superfície. 

A ligação pode ser desfeita e, depois, pode ocorrer uma nova ligação com outro íon ou molécula polarizada.

A capacidade de troca entre essas ligações é conhecida como capacidade de troca catiônica (CTC)

Na grande maioria das vezes, a superfície negativa atrai os cátions essenciais Ca2+, Mg2+ e K+, mas pode acontecer de se ligarem a ânions como H+ e Al2+.

Se a CTC do solo estiver mais ocupada por cátions essenciais, o solo está devidamente nutrido. Agora, caso os teores de ânions tóxicos estejam mais altos, o solo necessita de correção. 

Os teores de P, K, Ca, Mg, Al e H + Al indicam o teor de cátions permutáveis presentes no solo. Com esses valores, o agricultor poderá verificar a soma de bases (SB). 

Com a SB, será encontrado o número de cargas negativas que estão ocupadas com esses cátions.

Teor de matéria orgânica – M.O.

A matéria orgânica (M.O.) é composta de material orgânico em decomposição e microrganismos comumente presentes no solo. 

Junto com o teor de argila, a matéria orgânica é um dos principais reguladores da CTC do solo, fazendo ligação com os cátions essenciais. Essa ligação evita a lixiviação de cátions e, com isso, podem ser disponibilizados para as plantas.

Saturação por bases – V%

A saturação por bases corresponde ao teor em porcentagem da proporção ocupada por bases na troca catiônica. Esse item é fundamental para cálculos de correção do solo e mostra uma primeira ideia sobre como está a saúde do solo. 

  • Solos com V% igual ou superior a 60%: não é necessário aplicar a calagem.
  • Solos com teores inferiores a 50%: pode precisar de correção.

Contudo, vale o alerta: cada cultura tem uma necessidade específica em cada aspecto de solo apresentado na análise química. Conhecê-las e contar com o auxílio de um manual ou técnico será ótimo para melhores tomadas de decisão. 

Saturação por alumínio – m%

Alguns laudos de análise de solo também apresenta o valor de saturação por alumínio (m%). O valor corresponde à porcentagem do solo ocupada pelo ânion Al3+ e expressa a toxicidade deste no solo.

Portanto, quanto mais ácido o pH do solo, maiores as chances do ele ter um alto m%.

Micronutrientes

Ao solicitar o laudo de análise do solo, o agricultor pode pedir algumas informações adicionais. Os micronutrientes são indispensáveis para o bom desenvolvimento da cultura. 

A quantidade adequada de micronutrientes depende da espécie e do cultivar. O IAC fornece uma média da necessidade de cada um deles e pode ser usado como base para cálculos de adubação. 

Mas vamos lá: o ideal é usar sempre dois boletins de adubação que indicarão o teor de nutrientes necessário para cada cultura. 

Ao terminar de ler este artigo, é possível ter uma ideia melhor sobre como aproveitar a cultura na lavoura e, quem sabe, aumentar os lucros. 

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