lavoura e um ceu escuro e nublado representando la nina brasil

La Niña no Brasil: quais são as consequências em nosso país?

No Brasil, o La Niña altera as condições normais da relação entre temperatura e pressão atmosférica no oceano, afetando o país.

Ele faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS). Tanto o El Niño quanto o La Niña podem ter impactos globais no clima, na agricultura, nos ecossistemas e nas economias.

O La Niña tende a criar condições de seca em muitas partes do mundo, a exemplo do Sul do Brasil, enquanto traz chuvas em excesso para outras áreas, como o litoral do Nordeste e a Amazônia.

Este é o terceiro ano seguinte de La Niña. Os últimos dois anos consecutivos já contribuíram para reduzir a oferta mundial de alimentos e aumentar os preços das commodities

Quer entender melhor como funciona o La Niña e seu impacto no Brasil? Confira este artigo!

O que é La Niña?

O La Niña, assim como o El Niño, costuma ocorrer no Oceano Pacífico a cada poucos anos. Durante os anos de La Niña, os ventos alísios são muito mais fortes do que o normal. 

Isso torna a água no Oceano Pacífico perto do Equador alguns graus mais fria do que o normal. 

A mais sutil mudança na temperatura do oceano pode afetar o clima em todo o mundo.

Quando o clima está sob condições normais no Pacífico, os ventos alísios sopram para o oeste ao longo da Linha do Equador. 

Esse movimento leva uma corrente de água quente da direção da América do Sul para a Ásia, em direção à Indonésia. 

Para substituir essa água quente, a água fria sobe das profundezas em um processo chamado ressurgência. 

Os ventos alísios são um movimento constante e úmido de ventos que vêm das zonas subtropicais de baixa altitude. 

Eles vêm da região dos Trópicos de Câncer e Capricórnio em direção à região do Equador. Por causa da sua umidade, eles provocam muitas chuvas.

La Niña significa “menina” em espanhol. Também é às vezes chamado de El Viejo, Anti-El Niño, ou simplesmente “evento frio”. 

O El Niño é a versão contrária do La Niña. Ele aquece as águas do Pacífico, causando o movimento inverso das águas e dos ventos.

Isso faz com que o El Niño cause um aumento das chuvas em partes onde o La Niña causa seca e leve estiagem onde o La Niña provoca chuvas. 

Como ocorre o La Niña?

O La Niña é causado por uma interação entre Oceano Pacífico, atmosfera e ventos. Felizmente, com os avanços científicos, já é possível prever quando esse evento ocorrerá. 

Entre a fase quente (El Niño) e a fase fria (La Niña), quando não ocorre nenhuma anomalia, os cientistas descrevem as condições como “neutras para o ENOS”. 

Portanto, neutro significa que temperaturas, ventos, convecção (ar ascendente) e chuvas no Pacífico tropical estão próximos de suas médias de longo prazo.

Os eventos El Niño e La Niña acontecem em média em intervalos de 2 a 10 anos, mas não regularmente. Em geral, o El Niño é mais frequente do que o La Niña.

Contudo, de modo geral, El Niño e La Niña duram de 6 a 18 meses, embora possam prolongar-se por anos. Tanto que, desde 2020, registramos 3 ocorrências seguidas de La Niña. 

Durante os eventos de La Niña, quando os ventos alísios empurram as águas quentes para a Ásia, a ressurgência traz água fria rica em nutrientes para a superfície.

Logo, esse ambiente suporta mais vida marinha e atrai mais espécies de água fria, como lulas e salmões, o que é interessante para a pesca das regiões costeiras.

A água fria do Pacífico empurra o vento para o norte. Isso tende a levar a secas no sul dos Estados Unidos e fortes chuvas e inundações no noroeste do Pacífico e no Canadá. 

Quais são os efeitos do fenômeno La Niña?

De modo alternado, o El Niño e o La Niña aquecem e resfriam grandes áreas do Pacífico tropical, influenciando no regime de chuvas global. 

A mudança que a temperatura das águas e a pressão atmosférica causa altera significativamente onde e quanto chove

Toda a anomalia climática provocada pelo La Niña interrompe os padrões de circulação atmosférica dos ventos que vêm dos trópicos. 

Ao modificar as correntes de ar, o La Niña no Brasil pode afetar a temperatura e a precipitação

A influência no Brasil é mais forte durante a primavera (outubro-dezembro), mas permanece até o início do inverno do ano seguinte ao início do evento.

O La Niña gera consequências extensas. Sua forte influência chega a resultar em eventos climáticos mais extremos, como tempestades mais severas, inundações repentinas e outros transtornos às cidades

No campo, os prejuízos podem se somar ao excesso de chuvas ou seca extrema promovida pelos eventos.

Um dos transtornos causados pelo La Niña são as chuvas de granizo, muito prejudiciais às culturas de hortaliças e vegetais. 

Além de danos mecânicos, o granizo prejudica as plantas por meio de reduções na superfície fotossintetizante.

Ele também traz danos indiretos ao interromper a circulação da seiva. 

Ao ferir galhos, caules e folhas, o granizo facilita o desenvolvimento de doenças agrícolas devido ao contato de fungos em lesões abertas.

Como ocorre o La Niña no Brasil?

Uma enchente causada pela cheia dos rios, consequência do La Niña no Brasil. Na esquerda, há um menino de costas ao lado de uma canoa observando o local.

O La Niña é responsável por alterar as condições climatológicas em 20 regiões do planeta; o Brasil é afetado principalmente nas seguintes localizações:

  • no norte da região Nordeste;
  • na faixa tropical leste da Amazônia;
  • na faixa extratropical da região Sul.

Tanto o El Niño quanto o La Niña estão presentes no Brasil. O regime das chuvas é a principal anomalia registrada, porém é possível observar alterações na temperatura dessas regiões também.

Isso porque as nuvens de chuva acompanham a água morna do oceano. Normalmente, a temperatura da superfície da água ficaria em torno de 25 ºC.

Com um evento La Niña, ela cai para 22 ºC.

Consequentemente, com o deslocamento da água mais quente, as nuvens se concentram sobre o Pacífico ocidental. Logo, lugares como a Indonésia e a Austrália recebem chuvas acima do normal. 

Por outro lado, com as águas frias na costa leste do Pacífico, menos nuvens se formam abaixo do Equador, gerando maior seca no Sul da América. 

Além disso, com um fluxo maior de ventos, a massa de ar frio não permite que as nuvens de chuva parem sobre as regiões ao sul do Brasil, causando estiagem.

Como o Nordeste está mais próximo da Linha do Equador, ele não sofre com a estiagem, mas recebe mais umidade que o normal. 

De modo oposto às regiões Sul e Sudeste do Brasil, o Nordeste apresenta períodos de maiores chuvas por causa do La Niña no Brasil.

A Amazônia também fica propensa a receber mais chuvas expressivas, causando cheias dos rios, o que pode impactar as comunidades ribeirinhas e que dependem da pesca, além de haver perdas agrícolas.

O Centro-Oeste é uma zona mais neutra aos efeitos do La Niña, porém com maior tendência a acompanhar os padrões das regiões Sul e Sudeste.

Como foram os últimos anos?

Durante a última ocorrência de La Niña, entre 2020 e 2022, ocorreram chuvas significativas no sul do estado da Bahia. 

Em razão disso, muitos rios, inclusive os de municípios, transbordaram. Isso causou inundações em muitos locais, com milhares de cidadãos desabrigados; centenas ficaram feridos e houve registros de mortes.

Em outro extremo, as áreas do Sul do Brasil enfrentam secas severas entre setembro e fevereiro, com o restante do ano marcado ora por intensas chuvas, ora por picos de temperaturas elevadas.

Com um comportamento mais imprevisível nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, nos últimos anos de La Niña, alguns estados tiveram alternâncias entre fortes chuvas e fortes estiagens. 

Minas Gerais, que está mais próxima das condições climáticas do Nordeste, enfrentou chuvas extremas, o que causou o transbordamento de rios, bem como a inundação de alguns municípios. 

Isso levou à possibilidade de rupturas de barragens e deslizamentos de terra em algumas áreas, prejudicando a agropecuária.

Todos os transtornos já gerados nos últimos anos causam preocupação para o que pode vir do La Niña em 2022 e 2023.

No final de 2022 e início de 2023, a produção de milho do Brasil pode diminuir devido a um possível efeito La Niña.

O La Niña está intimamente ligado à redução da produção de milho no Brasil, o segundo maior exportador do grão do mundo.

Em 2021, a safra brasileira teve uma queda de 0,4%. No entanto, o valor da produção agrícola ainda foi capaz de bater recorde, movimentando R$ 743,3 bilhões.

Como se preparar?

Agricultura digital e inteligente

Em virtude das mudanças das condições climáticas, quanto mais puder estar preparado, melhor para o seu agronegócio. 

Os efeitos do La Niña no Brasil podem influenciar de modo positivo ou negativo a produtividade das culturas.

Uma dica importante é investir na agricultura digital. A tecnologia permite maior precisão para lidar com as oscilações climáticas.

O mapeamento do clima permite ao agricultor antecipar eventos e planejar seu manejo. Isso gera sustentabilidade da produção, otimizando recursos e melhorando os rendimentos.

Outra opção são as estações agrometeorológicas, que estão cada vez mais precisas e acessíveis e podem ser excelentes aliadas para que você acompanhe o clima da sua região.

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