O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. Por isso, vale a pena aprender sobre o canavial, plantação que ocupa uma área de 8,2 mil hectares no país.
Neste artigo, vamos abordar a realização do plantio de cana-de-açúcar, a correção e adubação do canavial e apresentar as principais pragas e doenças da cultura. Boa leitura!
O que é um canavial?
Canavial é o nome dado à plantação de cana-de-açúcar, um dos maiores produtos agrícolas brasileiros.
A estimativa atual realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de 2022/2023 é a produção de 596 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
O Valor Bruto da Produção (VBP) de cana-de-açúcar foi de R$ 118,90 bilhões, conforme calculado em 04/2022, levando em conta a produção dos quatro trimestres anteriores, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A cana-de-açúcar é conhecida por ser a matéria-prima da fabricação de açúcar e álcool, mas também dá origem a outros produtos como rapadura, cachaça, melaço, vinhaça, etc.
A utilização da biomassa proveniente do bagaço da cana para a produção de bioenergia tem ganhado destaque, com potencial para complementar a matriz energética do Brasil.
De acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN) de 2022, do Ministério de Minas e Energia, a biomassa da cana foi responsável por 16,4% da Oferta Interna de Energia.
Plantio do canavial
O planejamento da implantação de um canavial inicia-se a partir de um trabalho de sistematização do terreno e levantamento topográfico.
Dessa forma, realiza-se o nivelamento do terreno, o planejamento da sulcação e faz-se o dimensionamento de talhões, de forma a minimizar a manobra de máquinas.
Esse processo reduz os custos com operações mecânicas, previne erosões, contribui para a conservação do solo e aumenta a longevidade do canavial.
A divisão dos talhões leva em conta fatores como homogeneidade do solo e topografia. Em média, os talhões têm entre 10 e 20 hectares.
Preparo do solo
O preparo do solo é uma etapa que merece a atenção do agricultor, pois tem grande influência na produtividade da cultura, que, por ser semiperene, será mantida nos cinco ou seis anos seguintes.
Indica-se que seja feita uma análise do solo com a finalidade de identificar a quantidade de nutrientes disponíveis para as plantas e de orientar a posterior adubação.
Os solos considerados ideais para a implantação do canavial devem ser arejados, profundos, férteis e com alta capacidade de reter umidade.
Época de plantio
Cada época de plantio proporciona condições climáticas distintas que impactam o crescimento da planta. Isso deve ser levado em conta na escolha da época de plantio.
O canavial pode ser iniciado em três diferentes períodos:
- Sistema de ano e meio (18 meses): a cana-de-açúcar é plantada entre os meses de janeiro e março. É considerado o momento ideal para o plantio por apresentar as melhores condições de temperatura e umidade. Permite uma brotação mais rápida, o que reduz a incidência de doenças.
- Sistema de ano (12 meses): o plantio é realizado entre os meses de outubro a novembro. Tem a desvantagem de proporcionar um tempo menor para o preparo do solo e desenvolvimento da cultura.
- Plantio de inverno: é o plantio realizado na época seca do ano em lavouras que contam com sistema de irrigação.
Mudas
Recomenda-se que o produtor rural se assegure de adquirir mudas sadias e de boa procedência com cerca de 10 a 12 meses de idade.
O produtor deve escolher o cultivar que tenha melhor adaptação às condições da região de implantação do canavial.
A utilização de variedades resistentes ou tolerantes é uma estratégia para evitar pragas e doenças. A quantidade indicada é de 10 a 15 toneladas por hectare.
Deve ser realizada a distribuição de 12 gemas por metro de sulco. Em épocas de estiagem, recomenda-se a quantidade de 15 a 18 gemas por sulco.
Técnicas de plantio
O plantio do canavial pode ser realizado por meio do sistema convencional, cultivo mínimo ou plantio direto. Vejamos no que consiste cada um deles:
- Sistema convencional: realiza-se o revolvimento da camada superficial do solo através da aração e da gradagem. Se utilizado seguidamente, pode acarretar a erosão e compactação do solo.
- Cultivo mínimo: no cultivo mínimo, há um menor revolvimento do solo por meio da redução das operações de preparo. No caso da cana-de-açúcar, é necessário realizar a subsolagem.
- Plantio direto: nesse sistema, a semente é plantada diretamente no solo não revolvido, que será mantido coberto por resíduos vegetais. Seu objetivo é proteger o solo da erosão e da perda de nutrientes.
Veja também: Erosão do solo: saiba como combater essa ameaça à produção agrícola
Espaçamento e profundidade
O plantio pode ser realizado de forma mecânica ou manual e é dividido em corte de mudas, distribuição no sulco, corte dos colmos em partes menores no interior do sulco e cobertura.
O espaçamento no canavial varia entre 1 m e 1,8 m, enquanto a profundidade do sulco é de 20 cm a 30 cm. Existem ainda as seguintes especificidades:
- Solos arenosos: recomenda-se o espaçamento de 1 m a 1,2 m.
- Solos férteis: o espaçamento indicado é de 1,5 m.
- Colheita mecanizada: o espaçamento deve ter pelo menos 1,5 m para que se evitem o pisoteamento e a compactação das linhas pelas rodas das máquinas.
O espaçamento pode ser classificado como uniforme e combinado. No espaçamento uniforme, a distância entre os sulcos é constante.
Já no espaçamento combinado, há faixas de espaçamento uniforme e espaçamento alternado. O objetivo é criar condições para controle do tráfego.
Há ainda o espaçamento abacaxi, em que é feito o plantio de duas linhas de cana com distância de 30 cm entre si e espaçamento da entrelinha de 1,5 m (totalizando 1,8 m).
Por último, temos o plantio em sulcos largos, em que o sulco é realizado por um sulcador de base larga. Isso permite que o plantio de mudas forme uma linha dupla, com espaçamento de 1,8 m.
Correção e adubação do canavial
A correção da acidez do solo e a realização de adubação são fatores importantes para o aumento da produtividade do canavial. A correção do solo pode ser feita através de:
- Aplicação de calcário para correção da acidez do solo.
- Uso de gesso para a neutralização da toxidez do alumínio.
- Acréscimo da concentração de cálcio.
- Realização de fosfatagem para a elevação da presença de fósforo no solo.
Segundo a Embrapa, o potássio é o nutriente requerido em quantidades maiores pela
cana-de-açúcar, com doses de 80 a 150 quilos de K2O por hectare para cana-planta e soqueiras.
Quanto ao nitrogênio, são utilizadas doses de 30 a 60 quilos por hectare para cana-planta e 80 a 150 quilos por hectare para soqueiras.
A aplicação de fósforo é recomendada devido à carência desse nutriente em solos tropicais. As dosagens utilizadas são de 100 e 150 quilos de P2O5 por hectare.
Em geral, é feita uma única aplicação de fósforo no sulco de plantio, que supre a necessidade do canavial pelo período de cinco anos.
Conhecendo as pragas e doenças do canavial
De acordo com a Embrapa, o ataque de pragas é responsável por gerar perdas de cerca de 20% ao ano na cultura de cana-de-açúcar mundialmente.
A seguir, listamos algumas das pragas que podem gerar a perda de produtividade do canavial:
- Cigarrinha-da-raiz: suga os colmos causando redução de açúcar e o aumento de colmos mortos. A infestação é notada pela formação de uma espuma branca na base da touceira.
- Besouros: diversas espécies causam danos ao canavial, destruindo os toletes de plantio e das raízes, o que compromete a germinação. A espécie Migdolus fryanus destaca-se por acarretar prejuízos em larga escala e ser de difícil controle.
- Broca da cana-de-açúcar: a lagarta alimenta-se das folhas de cana e, em seguida, atinge o colmo provocando a abertura de galerias. É a principal praga da cultura.
- Broca-gigante: pode causar danos como abertura de galerias, coração morto, destruição do colmo e podridões.
- Cigarrinha-da-folha: segundo a Embrapa, no Nordeste, essa praga pode provocar a perda de até 17% de açúcar. Gera prejuízos como colmos com espaço reduzido entre os nós e queima das folhas.
- Lagarta-do-cartucho: provoca a destruição das folhas da cana-de-açúcar, tendo maior incidência durante os primeiros 90 dias da cultura.
Segundo a Embrapa, no Brasil existem 58 tipos de doenças que podem atingir a cultura da cana-de-açúcar. Listamos algumas delas abaixo:
- Podridão vermelha: é causada por um fungo que provoca a degradação dos colmos. Em conjunto com o besouro Migdolus fryanus, pode causar perdas de 50% a 70% de sacarose, segundo a Embrapa.
- Ferrugem: é provocada por um fungo que causa o aparecimento de pústulas nas folhas, reduzindo a realização de fotossíntese pela planta.
- Carvão: há o comprometimento da região de crescimento do colmo por um fungo. Isso provoca o surgimento de um chicote de coloração escura.
- Mosaico: é causado pelo vírus do mosaico da cana-de-açúcar. Seus sintomas aparecem nas folhas através do surgimento de áreas de um verde intenso.
- Escaldadura das folhas: é causada por uma bactéria que coloniza os vasos das plantas e move-se por seus tecidos. Causa má-formação dos colmos, morte das touceiras e perdas do teor de sacarose.
Recomenda-se a adoção do Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIP) como forma de prevenir o comprometimento do canavial.
O MIP preconiza o monitoramento da cultura e a utilização em conjunto de diferentes estratégias, como o controle biológico e o controle cultural.
A intervenção com produtos químicos ocorre somente quando a população de insetos atingir o nível de controle.
Conclusão
No presente artigo, conhecemos os principais aspectos envolvidos na implantação de um canavial, como planejamento, preparo do solo, escolha de mudas e época de plantio.
Vimos informações sobre correção do solo e realização de adubação em canaviais, além de termos contato com algumas das pragas e doenças que devemos prevenir nessa cultura.
A cana-de-açúcar é o terceiro maior produto agrícola brasileiro, ficando atrás apenas da soja e do milho.
Entender sobre o plantio da cana-de-açúcar é relevante para os agricultores que considerem cultivá-la e para os distribuidores de insumos que realizam a difusão de produtos voltados para essa cultura.
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