A grande expansão da agricultura brasileira fez com que regiões de solo arenoso, como o Cerrado, fossem revertidas para fins de exploração agrícola.
Trata-se de um tipo de solo considerado desafiador para os produtores rurais, devido ao seu risco de degradação, à sua suscetibilidade à erosão e à baixa fertilidade natural.
No entanto, com práticas de manejo adequado, esse solo pode ser explorado de maneira sustentável e converter-se em um espaço produtivo. Quer saber como? Continue a leitura!
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ToggleO que é um solo arenoso?
O solo arenoso, também conhecido como solo leve, é aquele composto de areia em sua maior parte, uma partícula que varia entre 0,05 mm e 2 mm.
Segundo o Documento 357 da Embrapa, o solo arenoso contém entre 50% e 100% de areia, 0% a 20% de argila e 0% a 40% de silte.
A principal classe de solo presente no Brasil é o neossolo quartzarênico, que corresponde a 11% da área do país e a 15% da área do Cerrado.
De acordo com o documento, somado ao latossolo de textura arenosa, esses solos representam 25% do território nacional.
Além disso, existem estimativas de que 50 milhões de hectares sejam áreas de pastagens degradadas.
Características do solo arenoso
De acordo com o Documento 357 da Embrapa, o solo arenoso possui as seguintes características:
- elevada suscetibilidade à erosão;
- baixa absorção de fósforo;
- drenagem excessiva que promove a lixiviação de nutrientes;
- baixa retenção de água;
- pH baixo;
- baixa fertilidade natural;
- toxidez de alumínio;
- risco elevado de degradação;
- baixo teor de matéria orgânica do solo (MOS);
- CTC baixa e dependente da matéria orgânica do solo.
A CTC é a capacidade de troca catiônica do solo e influencia na sua propriedade de reter nutrientes, como nitrogênio e potássio, e de deixá-los disponíveis para a absorção das plantas.
Veja também: Tipos de solo: só aproveita melhor, quem conhece melhor!
Desafios do cultivo em solo arenoso
O solo arenoso apresenta baixa retenção de água, carbono e outros nutrientes, além de ser mais suscetível à erosão, conforme a Circular Técnica 118 da Embrapa.
De acordo com a circular, a ocorrência desse tipo de solo é comum em climas quentes, condição em que a demanda evapotranspirativa das plantas é maior.
Isso se soma à dificuldade de cultivar em solo arenoso, pois se, de um lado, o solo retém pouca água, de outro, os vegetais têm maior necessidade de hidratação.
Além disso, o clima quente acentua a decomposição de material orgânico, o que compromete a presença de carbono no solo, a retenção de água e a capacidade de troca de cátions.
Veja também: O que é erosão? Saiba como proteger a sua lavoura
O manejo de solos arenosos
De acordo com o Documento 357 da Embrapa, a adição de água e fertilizantes em solos arenosos deve ser frequente.
O documento recomenda as seguintes práticas:
- Aplicação de calcário a lanço em área total, conforme recomendações de calagem em vigência. Deve ser feita em doses menores e de forma mais frequente.
- Aplicação de gesso agrícola com o fim de diminuir a saturação de alumínio. Deve-se ter cuidado com a quantidade aplicada.
- Aplicação de nitrogênio de forma parcelada e em dosagem mais alta.
- Aplicação mais frequente de enxofre e boro.
- Aplicação de potássio de forma parcelada e a lanço em área total.
Os solos arenosos são sensíveis ao manejo intensivo, que pode causar consequências indesejadas como erosão, compactação do solo e dispersão da fração de argila.
Para esses solos, são indicadas a cobertura do solo, a rotação de culturas, a adoção do sistema de plantio direto e da Integração lavoura-pecuária-floresta.
De acordo com a Embrapa, o aumento do teor de matéria orgânica do solo e a palhada de cobertura são elementos essenciais para a sustentabilidade do solo arenoso.
Com esses elementos, é possível aumentar a capacidade de troca catiônica do solo e a sua retenção de água.
Vejamos a seguir as práticas recomendadas para a exploração econômica do solo arenoso.
Sistema de plantio direto
A Circular Técnica 116 da Embrapa refere-se ao sistema de plantio direto como pedra angular dos cultivos em solo arenoso.
Nesse sistema, não há preparação do solo por meio da aração ou gradagem. A semeadura é feita no solo não revolvido recoberto por resíduos vegetais.
Conforme a circular mencionada, temos as seguintes vantagens desse sistema:
- melhoria dos atributos biológicos do solo;
- redução da propagação de ervas daninhas;
- maior retenção de água pelo solo;
- diminuição da ocorrência de erosão;
- melhora da retenção de nutrientes pelo solo;
- redução dos picos de temperatura do solo.
Cobertura permanente do solo
De acordo com a Circular Técnica 116 da Embrapa, um estudo demonstrou que a associação do sistema de plantio direto com cobertura do solo por palha de aveia preta levou a uma redução de 18% a 38% da evaporação do solo.
Isso ocorre graças à reflexão da radiação solar proporcionada pela cobertura de palha, que reduz o processo de aquecimento do solo.
A menor ocorrência de picos de temperatura no solo favorece a absorção de água e nutrientes pelas plantas, bem como a fixação biológica do nitrogênio.
No caso da cultura da soja, a circular recomenda, ainda, o plantio intercalado de forrageiras tropicais em razão dos benefícios de seu sistema radicular para a estrutura do solo.
Essa tática proporciona uma elevada produção de palha e contribui para o aumento da quantidade de carbono orgânico no solo.
Rotação de culturas
Trata-se da alternância do plantio de espécies vegetais que pertençam a famílias botânicas distintas em uma mesma área por um período de tempo determinado.
De acordo com a Circular Técnica 45 da Embrapa, idealmente, as culturas escolhidas devem ter sistemas radiculares diferentes, a exemplo de gramíneas e leguminosas.
Dessa forma, a cultura antecedente deixa um efeito residual benéfico para o desenvolvimento da cultura seguinte.
Como adubos verdes, a publicação cita as seguintes indicações: aveia, milheto, tremoço, girassol e diferentes espécies de pastagens.
São citadas como vantagens da rotação de culturas que podem beneficiar a produção em solo arenoso:
- evita a erosão e a degradação do meio ambiente;
- auxilia no controle de ervas daninhas;
- contribui para o controle de pragas e doenças;
- promove a produção de palhada;
- proporciona maior estabilidade da produção;
- auxilia na recuperação de áreas degradadas.
Integração lavoura-pecuária-floresta
A integração lavoura-pecuária-floresta reúne, em uma mesma área, os sistemas produtivos agrícola, pecuário e florestal de forma integrada, otimizando o uso da terra.
Segundo o Documento 357 da Embrapa, os sistemas integrados promovem a rotação de culturas, que intercala o plantio para fins comerciais e o plantio para produção de biomassa ou palhada.
Dessa forma, realiza-se a cobertura permanente do solo, o que gera um aumento de sua atividade biológica e dos teores de carbono e de matéria orgânica do solo (MOS).
Observou-se que a rotação entre lavoura e pecuária resultou em uma melhoria da qualidade do solo e no aumento de sua capacidade produtiva devido à sinergia entre as atividades.
De acordo com a Embrapa, outras vantagens da adoção do sistema ILPF em propriedades rurais de solo arenoso são:
- aproveitar o efeito residual da adubação da cultura rotacionada pela cultura seguinte;
- as raízes de forrageiras utilizadas no sistema ILPF melhoram a estrutura do solo e sua atividade biológica;
- otimização da ciclagem de nutrientes no solo;
- melhora dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo e de sua retenção de água;
- o aporte de biomassa vegetal e do teor de MOS aumenta a diversidade biológica do solo;
- redução da pressão pela abertura de novas áreas com vegetação nativa;
- permite que a propriedade seja produtiva durante todo o ano;
- aumento de renda devido à diversificação de atividades.
Sistema São Mateus
O sistema São Mateus é um exemplo de sistema integrado desenvolvido para o solo arenoso.
De forma simplificada, esse sistema inicia-se com a adequação do terreno e a correção química do solo com aplicação de gesso, calcário e adubo.
Na próxima etapa, há a implantação da pastagem temporária para fins de adequação física do solo e formação de palhada para o plantio direto.
Depois disso, faz-se o pastejo durante seis a nove meses. Os rendimentos obtidos com a produção de carne podem ser utilizados para amortizar os custos das etapas anteriores.
Na fase seguinte, é feita a dessecação da pastagem e a semeadura da soja em plantio direto na palhagem proporcionada pela pastagem dessecada.
Assim que for concluída a colheita da soja, faz-se a semeadura da pastagem, que servirá para a produção agropecuária nos dois anos seguintes.
O cultivo de soja é retomado no terceiro ano. Em seguida, é feito um planejamento para a definição da duração dos ciclos de lavoura e pecuária.
Segundo o Documento 357 da Embrapa, observou-se que foi possível dobrar a produção de carne por meio do aumento de produtividade promovido pelo sistema integrado.
Conclusão
No presente artigo, vimos a definição e as características de solo arenoso, bem como os desafios enfrentados por produtores rurais para seu cultivo.
Vimos também que é possível realizar o manejo adequado do solo arenoso com práticas como a rotação de culturas, a cobertura do solo, o plantio direto e o sistema ILPF.
A fertilização frequente e parcelada também é indicada para o cultivo sustentável em solo arenoso, fator que merece a atenção de produtores rurais e distribuidores de insumos.
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